31.5.11

hoje quebrei um dente parte 2 (marketing do absurdo)


o marketing do absurdo toma fôlego na postura em que me encontro - a me auto-definir um anti-herói semi-autobiográfico da inconstância, da ferocidade da cidade: os dias banais, o veranico de maio onde estico o corpo sobre a cama para tomar nota do peso, da boca a mostrar os dentes. vociferar um ah! em discórdia  & depois retratar (em segredo camuflado) certos tons de entendimento que não ouso oferecer. você morre antes de mim & eu não quero ter culpa. em poucos detalhes o mundo-cão se pronuncia como uma besta disforme nos seguintes fluxos desordenados:

1) a pessoa c & eu numa noite estranha. amigos sem presunção. gente que pergunta: de onde vocês se conhecem? - como se ambos guardássemos algo ilícito. a pessoa c não responde, mas eu me pronuncio com desdém.

2) a pessoa c, eu & mais amigos na fila quilométrica quando me senti emputecido, pois não estou acostumado a enfrentar filas quando o meu intuito é beber, dançar, sorrir & desenganar muitos rostos. & mesmo que discordem, acho a maioria das pessoas desinteressantes.

3) drinks & everything. no banheiro minúsculo & lotado, perdi o restante das drogas guardadas no bolso.

4) hora de fugir, outra fila & eu a não perder meu tempo: "olha, passei duas horas numa porcaria de fila & você me diz que não pode me atender agora? não vou perder o meu tempo em outra fila quilométrica pra sair desse lixo. você vai me atender, sim! eu quero sair daqui o quanto antes!". enquanto todos olhavam aterrorizados a cena, a pessoa c baixou o rosto, envergonhado. mas a realidade é que saí de lá orgulhosíssimo da minha atitude.

5) caminhada pelas ruas fétidas, a pessoa c decide comprar um hamburguer, & eis que um rapaz com uma saúde muito boa & bronzeada, me aborda com um papinho de quinta categoria. resolvi brincar com a situação, até que o fulano de tal, possivelmente um michê de bobeira nas calçadas alencarinas (& percebendo meu tom blasé a dar corda para que as pessoas se enforquem) veio com um papo relacionado a sexo versus pagamento. aí a pessoa c se impôs & cortou o barato do malandro, que foi embora com o rabinho entre as pernas.

6) depois de tal cena bizarra, falei para a pessoa c que deveríamos ter entrado na onda, afinal tudo isso é material para que eu escreva no meu estimado blog o impenetrável.  mas a pessoa c não entendeu o meu ponto de vista de pessoa vítima da pós-modernidade que oprime (& deprime).

eis então toda a poética & realidade crua dos fatos. amanhã retornarei à labuta de moço compromissado com emprego, estudos, amigos, dinheiro, moda, bebida, verdades, bizarrices de toda uma vida que merece ser vivida - apesar dos pormenores & das críticas que deverão surgir, pois penso que ninguém é exemplo de nada. & não há nenhuma celebridade rica e milionária aqui pra se preocupar com uma coisa chamada imagem.

(imagem: gabríela fridriksdottir)

30.5.11

hoje quebrei um dente


segunda-feira: diazinho ingrato. as férias de maio finalmente chegaram ao fim & esta cidade continua mais quente, às vezes intolerável - pois você precisa ter uma mente criativa para sobreviver & se divertir nela. geralmente, às segundas não tenho inspiração. na quarta começará o hard work, pois funciono melhor assim: poucas horas de sono, dia inteiro de trabalho, horários loucos, corrida até a faculdade, encontro com os amigos, conversas transcendentais, botecagem quando possível & como forma de salvação.

a noite de sábado foi de loucurinha: espera de horas numa fila quilométrica enquanto meu sonho momentâneo era dançar, beber & gargalhar. pois sim, tudo muito bonito, pessoas diferentes (das quais você jamais conseguiria enxergar o rosto) & muita música. mas cansei o suficiente para a seguinte afirmação: eu não preciso disso - & a cada momento tenho a impressão-certeza de que muito o que existe por aí é descartável. não entrarei em detalhes, afinal não sou memorialista & o mundo gira & todos nós somos vítimas do absurdo.

o fim da noite? sim, gritos com a atendente disléxica que me fez esperar & esperar para que eu fosse atendido. eu me calo, mas quando é preciso armar uma tenda de circo, sou o primeiro a levantar a voz e criar uma cena. orgulho do meu lado temperamental, deixo bem claro.

conselho aos desavisados: o tempo de mudança está aí. hoje quebrei um dente, acreditem.

24.5.11

das libertações do calor

não esperamos que o mundo deixe de ser mundo ou que as pessoas se calem para que possamos ter voz - viver em paz. não existe paz. a voz que sai da boca deve ser uma extensão do que somos? sim, mas é algo tão difícil que o melhor a fazer é mudar de assunto. a realidade nos força a dançar conforme a música ou seguir no passo de um só. aos poucos tenho percebido que a vida corre, quando você menos espera os anos se diluem & o tempo te abocanha. sentir-se bem na pele de lobo, abutre, vampiro ou lolita é direito de cada um. verdades, mesmo que raras, servem para manter nosso solo arado. decidi não me deixar influenciar. a solidão que nos maltrada também é antídoto. o conselho aqui é rápido, talvez uma visão de bom começo para encarar a semana, os compromissos, a loucura dos horários, as refeições desregradas & everything. o resto, com muita força, aparece & desaparece equanto você toma fôlego para o próximo round. mas na pior das hipóteses, discutimos tais dilemas, ironicamente, numa mesa de bar.

20.5.11

espécime visual

antes que eu mate o beijo, se faz necessário que eu recorra à lembrança daquela noite.

durante o café entre amigos, o deus que nos condena tomou meu pulso diante de si como se eu fosse um ornamento da casa, ao invés de carne, osso, reação.

antônio redime a palavra numa mesa de bar enquanto uma porta se fecha & o passado dita a história.

quando f. scott fitzgerald escreveu: "he would come back some day", meu passo tomou o rumo da estrela que brilha escoltada por falsos cometas.

durante quase três décadas o ir cambaleou na esquina, impedindo a nota do samba, a estridência da música.

trata-se do intermédio, penso, ou mudo de assunto entre eu & meus botões.

aqueles olhos revisitaram os meus detalhes, mas por um segundo perdi o tato & a crença.

esta cama me faz perceber que o corpo também precisa de molas.


16.5.11

bermudas sobre bermudas

gostaria de escrever verdades, porém o primeiro passo me é difícil, quero fazer bonito com o pouco ou o muito que me resta. o manual de sobrevivência que se perde nas entrelinhas quando o calor é tão insuportável. ainda é cedo para que haja doses homeopáticas de abandono. preciso arrumar este quarto o quanto antes: dobrar as calças jeans, enfileirar bermudas sobre bermudas. cada silêncio me é questionado como visita corriqueira. se eu pudesse, seria apenas o frio a extirpar a velocidade do vento. eu seria lua pintada de sonho, lá em cima, onde ninguém pudesse me alcançar.

9.5.11

primeira locomoção rumo ao poente (ou) o menino há de dançar

o menino dança & my black coffee is cold outside.
telefonemas difíceis, qualquer vestígio de boca aberta é mera coincidência.
você insinua performances involuntárias, aquele ar blasé misturado aos traços desiguais do rosto, no caso.
as missivas jazem no baú onde nunca dei umas fuçadas. só perco o respeito (& a educação) quando a curiosidade é maior que o meu desconforto. aqui tudo é mato, livros nas estantes - como olhos de coruja que conspira, vertiginosa.

a vida na fazenda não é fácil, com a morte de sofia as empregadas caem na dança, sou o único a ter os ouvidos maiores que a boca. o casarão em si é sombrio, tapetes por todos os lados, escuridão em pleno agreste mundano. se pudesse, levaria comigo a herança.

muito dinheiro compraria todos os resquícios de humanidade, acredite.
ele pôs os objetos recém arrumados sobre a mesa. penso, com prazer, em eventuais desordens radicais.
a história do homem livre me é complicada. eles não venceram.
o homem boca de nossos dentes arranca a própria mandíbula numa manifestação simbólica
ou a vontade de não estar aqui a prolongar este jogo.

4.5.11

com o pouco dinheiro que resta, tatuarei no punho um símbolo socialista do amor maldito

"Preciso ir muito devagar, mas a pressa de ficar bem me atrapalha"
Ana Cristina Cesar 

Antônio chega em casa, senta, disposto a escrever um relato às 22:46. Antônio volta de uma bebedeira com os amigos. Antônio está relativamente bêbado às 22:46 em diante. Espero ser o mais honesto possível, pacto comigo mesmo, impenetrabilidade que serve como consolo ao que deve ser dito, no caso, agora, pois eis a verdade: esperança de salvação em plena quarta-feira. Os cigarros já não são a melhor companhia, ando fumando demais & incapaz de sustentar o próprio fôlego.

(Intimamente, gostaria que determinadas pessoas nao lessem o que está por vir. É uma dor que não dói, vista de fora, relativa, imprópria aos incapazes de qualquer entendimento - independente de qualquer boa ação, intenção, relação.) Mas se eu não tenar me salvar, mesmo sob efeito do álcool, quem poderá dizer qualquer verdade? Quem poderá assumir o meu lugar? Falar sobre máscaras soa como um clichê de quem não sabe escrever, de quem quer escrever & não possui a palavra certa, no caso, eu, pois a literatura aqui é nula. A realidade em si não exige literatura, exige consolo, compreensão, arroz com feijão, carinho, entendimento que afaga...

Utilidade número um: desisti da viagem que possivelmente me salvaria. O plano seria estar sozinho, refletir sobre a vida, escrever o livro da vida, entender um milímetro de vida que me faça caminhar consciente de mim mesmo, como quem diz "eu aprendi a me amar".

Utilidade número dois: tempos de nuvens negras não se adequam ao hoje, as noites de desespero se concentram num passado onde não posso esquecer quem hoje vive feliz, ao lado de outro, & não se importa com qualquer palavra dita da minha boca.

Durante o dia, telefonemas não atendidos, eu a esperar um um alô. Fim de caso, luta inconstante, & J. deverá não estar ao meu lado na sexta onde beberemos, dançaremos em profusão?

Okay, sou uma pessoa que necessita de drogas, sem desculpas, não adianta tentar me redimir falsamente. O orgulho surge quando sou capaz de revelar aos incrédulos certas verdades. Não há vergonha. Mas por consideração, deixo de ser eu mesmo, nego ao dealer a oferta que me faria sentir bem, economizo dinheiro, volto pra casa com a sensação de que você é um filho da puta & não quero me importar, jamais. Mas o contrário prevalesce.

Outro cigarro no bico, unhas roídas ao sabugo, volta cambaleante ao lar, medo de assalto, J. que não atende aos meus telefonemas. Sim, sensação é a mesma & a atitude deve mudar: amargura versus amargura, e daí? Triste do homem que depende da aceitação do outro para se manifestar. Triste de qualquer realidade cu do mundo onde o homem não deve ser o homem em questão, visto de fora pra dentro, de dentro pra fora.

Você que me entende intimamente fecha os olhos & escreve qualquer coisa, não há boa intenção. Amanhã, acordar como um lindo cavalo no pasto, despero de quem está sozinho na multidão cega, impermeável, vítima da moda & do que não salva em vida.

Afinal, o meu intuito é a salvação, querida realidade.

(Antônio LaCarne às 23:15)  



1.5.11

insatisfação às romãs

"A literatura, como toda arte, é uma confissão de que a vida não basta"
Fernando Pessoa

nós, que validamos o orgulho, sentimos medo do grande amor que se aproxima.

primeiro dia de férias após 1 ano e 2 meses de intensa labuta, luta contra o trânsito no horário do rush, a pele desgastada, cabelo desgastado, cansaço a se esvair nos sinais de trânsito & finalmente a pausa para o balanço da realidade: clarear as idéias, antônio, você é um bom moço, as drogas já não fazem o efeito esperado, basta dar um fim & tudo recomeça, o corpo limpo, a mente a não se deixar poluir & aquela sabotagem constante finalmente desmembrada, na lata do lixo. ser livre é de uma complicação que exige amarras, punhos cerrados, homem que abandona tudo em busca de uma coisa indefinida a se transformar em outra coisa também indefinida. mas agora que superei o drama jamais revelado aqui, tudo parece tão plástico, aço inoxidável de qualquer comparação, pois não adianta comparar. ao colaborar com o crime, você interrompe uma intuição severa & depois manifesta um orgasmo. o fio da meada é o meu corpo diante do teu, enquanto desisto da farsa & caio no desbunde.

o quadrado da cama interrompe o meu sono (quando os sonhos deveriam ser em triângulos).

vida: leque em posição perpendicular à claridade cega do sol.

duas horas: tempo suficiente para amenizar os fatos & as dores.

ordem do dia: domingos merecem a salvação, & os homens, a culpa.

quem será a megera que nos pune? amiga? madrasta?