o marketing do absurdo toma fôlego na postura em que me encontro - a me auto-definir um anti-herói semi-autobiográfico da inconstância, da ferocidade da cidade: os dias banais, o veranico de maio onde estico o corpo sobre a cama para tomar nota do peso, da boca a mostrar os dentes. vociferar um ah! em discórdia & depois retratar (em segredo camuflado) certos tons de entendimento que não ouso oferecer. você morre antes de mim & eu não quero ter culpa. em poucos detalhes o mundo-cão se pronuncia como uma besta disforme nos seguintes fluxos desordenados:
1) a pessoa c & eu numa noite estranha. amigos sem presunção. gente que pergunta: de onde vocês se conhecem? - como se ambos guardássemos algo ilícito. a pessoa c não responde, mas eu me pronuncio com desdém.
2) a pessoa c, eu & mais amigos na fila quilométrica quando me senti emputecido, pois não estou acostumado a enfrentar filas quando o meu intuito é beber, dançar, sorrir & desenganar muitos rostos. & mesmo que discordem, acho a maioria das pessoas desinteressantes.
3) drinks & everything. no banheiro minúsculo & lotado, perdi o restante das drogas guardadas no bolso.
4) hora de fugir, outra fila & eu a não perder meu tempo: "olha, passei duas horas numa porcaria de fila & você me diz que não pode me atender agora? não vou perder o meu tempo em outra fila quilométrica pra sair desse lixo. você vai me atender, sim! eu quero sair daqui o quanto antes!". enquanto todos olhavam aterrorizados a cena, a pessoa c baixou o rosto, envergonhado. mas a realidade é que saí de lá orgulhosíssimo da minha atitude.
5) caminhada pelas ruas fétidas, a pessoa c decide comprar um hamburguer, & eis que um rapaz com uma saúde muito boa & bronzeada, me aborda com um papinho de quinta categoria. resolvi brincar com a situação, até que o fulano de tal, possivelmente um michê de bobeira nas calçadas alencarinas (& percebendo meu tom blasé a dar corda para que as pessoas se enforquem) veio com um papo relacionado a sexo versus pagamento. aí a pessoa c se impôs & cortou o barato do malandro, que foi embora com o rabinho entre as pernas.
6) depois de tal cena bizarra, falei para a pessoa c que deveríamos ter entrado na onda, afinal tudo isso é material para que eu escreva no meu estimado blog o impenetrável. mas a pessoa c não entendeu o meu ponto de vista de pessoa vítima da pós-modernidade que oprime (& deprime).
eis então toda a poética & realidade crua dos fatos. amanhã retornarei à labuta de moço compromissado com emprego, estudos, amigos, dinheiro, moda, bebida, verdades, bizarrices de toda uma vida que merece ser vivida - apesar dos pormenores & das críticas que deverão surgir, pois penso que ninguém é exemplo de nada. & não há nenhuma celebridade rica e milionária aqui pra se preocupar com uma coisa chamada imagem.
(imagem: gabríela fridriksdottir)