31.1.13

vou desenhar um tubarão que te arranca as metades


O lamentável silêncio das horas. Um dia que, por ser tão vago ou insosso, se transforma em água turva quando penso em você diante do computador. Um texto sobre o gato escaldado próximo ao muro, o futuro, a fatura do cartão de crédito. Um coração humano de papel. Nós aqui sem perdão, tanta gente perdida naquela sensação sem rosto. Qual é mesmo o nome? Qual é a cor do que, sem jeito certo, eu tento te explicar? Sair por aí de bobeira, postergar o livro de cabeceira, fumar outro cigarro, não cuidar da dieta, cortar o cabelo, se desvencilhar do que não faz falta. Nosso assunto no escuro quando acordei sombrio em pleno meio-dia. Pairando na vida e acordando, cumprindo horários, os rastros das mesas, das cervejas, dos abraços apertados. As cartas presas na indolência da boca que só preza assunto corriqueiro, piadinha, ironia, frases de efeito. Mas se existe uma falha, cria-se um blog como terapia, pois é preciso botar pra fora. É preciso criar listas e um plano, livrar-se das barras. E se você promete uma certeza, os olhos lançam brilhos, as tensões desabam, passo a querer você por perto, como cúmplice. Liquidificador que mistura a minha alegria ao redor do mundo, mas depois tudo se transforma em poeira; as estações passam e a gente ganha outro ano nas costas. Felizmente passo a ser eu mesmo, deixo umas palavrinhas registradas, registro aqui e ali uma marca, um calo no pé, um desfile na passarela. Tranco as portas e escondo a chave no peito. Fecho os olhos e por você não ponho minha mão no fogo.

26.1.13

boneca possuída



Morrendo de sede em plena manhã de sábado, ressaca monstra do absurdo, questionando a vibe loucona de ontem, da semana, dos drinks ad infinitum, da festinha no apartamento da melhor amiga, do cupcake que eu deveria ter comido, do after que sumiu da memória devido aos constantes excessos de mim mesmo, da noite, das companhias, da mistura de cerveja com champanhe, de gente que chega perto demais, gente que se afasta demais, dos que deveriam ter vindo, dos que sumiram – mas meu coração não virou pedra.
A cidade e seu eterno calor insuportável, os supostos artistas de merda, as cobrices, as barras, a forçação de barra, o tom blasé do paquerinha, a grana apertada, o atraso do dealer, o sumiço do dealer, a ironia, a autossabotagem desenfreada, os ex-amantes e etc e etc e etc.
Mas bom mesmo é de vez em quando interpretar a boneca possuída, rir aos quatro ventos, fazer a íntima, fingir que nada está acontecendo. Controle é a alma do negócio, e eu cansei de ser uma pessoa estranha. Me livro do luxo e do frio antes que o galo cante cedo demais pro meu lado.
E mais tarde, outro drink, outro drama, outra paranoia, outra obsessão, outra fome de você, outro ódio de você – mas meu coração não virou pedra.


13.1.13

amante babaca



Plantei a florzinha da paixão guardada no peito e você veio de mansinho e cortou o mal pela raiz, como se eu fosse um vilão de novela, ou um robô de sentimento plastificado. Aí não curei a mágoa do coração aos pedaços. Enchi a cara de cerveja e te liguei quando tudo era tão tarde, quando a noite foi a melhor amiga. Amanheci ao léu de mim mesmo, cutuquei onça com vara curta, aluguei os amigos com os dramas da solteirice e o choro preso na garganta. Surtei de segunda a segunda. Exagerei no cigarro, marquei um pacto com a solidão, me tranquei no banheiro, dediquei 14 noites ao baixo astral que não me salvou de você: tão babaca e sem um pingo de sensibilidade. Então 2013 deu o ar da graça e pude então traçar planos, pensar em mim como sobrevivente do amor que não deu certo. Acordei livre do passado e dos arranhões. Aquele lance do “quando casar, sara”. Mas eu só queria uma coisa, que você me amasse pra caralho. 


6.1.13

50 tons de whatever



Vida, eu te pergunto: HOW DEEP IS YOUR LOVE?
Janeiro começou pegando fogo, eu acreditando em duendes, 437 cerejas no meu bolo. 
Será 2013 o ano do sexo?
O ano em que nos perderemos e nos encontraremos no fim do túnel?
O ano de plantar sua plantinha interior?
O ano do amor como merdinha?
Ou o ano em que enlouqueceremos totalmente e partiremos para o álcool e as drogas?
Pois a partir de amanhã, em plena segunda, iniciarei uma dieta cujo objetivo é perder 4kg: emagrecerei a memória e um pedacinho do coração.
Mais uma vez estou bem, estou zen, estou Gal. A vida continua sendo um fist fucking cravejado de diamantes pontiagudos, juro! É que na preguiça existencial, quando você não ousa sair por aí mostrando as fuças, o melhor a fazer é dançar um mambo caliente.
Nas manhãs tão quentes quanto o mármore do inferno, saio por aí cantando “eu não quero tocar em você, oh baby”.
Afinal o meu coração é uma bruxa de meia idade.
2013 não te ama, ele só quer te comer, e nada de telefonema no dia seguinte.
Portanto, I just love my bambi eyes and you´re not gonna kill my vibe.
Me livrei das neuroses não pensando em você, não exigindo companhia, sendo eu mesmo numa mesa de bar, no lugar errado, na hora errada e com a companhia errada.
Os meus cigarros suicidas no bolso, sorrindo e mostrando os dentes quando o príncipe encantado com sua jaqueta de couro passar por mim e perguntar se tenho fogo.
O meu fogo sou eu: autossuficiência que não arranca pedaço, querida.
Quem viver, verão.
Oh, o verão. 

1.1.13

o peso dos cristais no meu pescoço



Bebê, foi assim:

O diário de uma solidão começou quando você se encantou com os fogos de artifício, descascou as bananas e me deixou um prêmio. Serão 364 dias próximos sem ferida exposta, reunião para a troca de armadilhas, e beijinho no cangote após uma sessão de filmes meia boca.
Adoro lasanha.
A fome é tão grande que eu comeria um boi, uma porca, um texugo e inclusive você.
Mas não, quem tem medo há de se partir na máscara que cada mortal babadeiro carrega como cruz grudada ao corpo. Manterei o peito a descoberto assim que o plano, o passo rasteiro, a carinha de palhaço se juntar às cinzas do meu cigarro.
Ontem mesmo me parti e me reestruturei entre um mambo caliente e outro.
Eu não sou um monstro, apenas me descontrolo no ninho das serpentes.
E estão abertas as inscrições para o tapa na cara com luvas de pelica.
Adorei fre-ne-ti-ca-men-te a retaliação dos deuses.
Sou uma pantera no pole dance diante da escuridão.