12.9.13

AMOR É INDEPENDÊNCIA



Dias atrás, ou mais precisamente numa terça-feira fatídica, me deparei com a edição de novembro de 2012 da revista Filosofia, onde Carlos Eduardo Doné escreveu um artigo cujo título “Amor e relacionamento versus felicidade” serviu como uma espécie de mão na roda/mantra em relação aos meus dias trôpegos e subservientes. Ou melhor, se refere à nossa conduta que generaliza a solidão como algo negativo, sem ao menos contextualizar as diferenças biológicas, fisiológicas, culturais e existenciais que nos caracterizam.

Doné estava certíssimo ao afirmar que não há um meio-termo entre um relacionamento ortodoxo e o hedonista proveniente da solteirice que, até hoje, infelizmente, carrega um fardo nas costas – pois estar solteiro não é visto como uma possibilidade, e sim como uma espécie de transição até você encontrar a sua cara-metade, isto é, a felicidade, e, sendo ainda mais preciso: o amor da sua vida.

Desde o século XIX com o surgimento do romantismo – e sem entrar no mérito da influência cristã – ainda somos marcados por ideais utópicos no que diz respeito às paixões e aos desejos de escapismo subjulgados ao que a sociedade impõe. O solteiro, por não ser socialmente aceito se comparado à leva de casais tipicamente felizes (ou mais próximos de um bem-estar amoroso/pessoal) busca um parceiro para se relacionar, mesmo que isso não o faça suficientemente completo.

Não é uma questão de inteligência ter a certeza de que o ser humano é um ser sozinho, e essa ideia de autossuficiência é deixada de lado quando desviamos a atenção de nós mesmos e plantamos inúmeras expectativas em relação ao outro.

A nossa opinião acaba por nunca ser genuinamente nossa. Se nos consideramos bonitos, inteligentes, sensuais, sensíveis, atraentes, é concomitantemente relacionado ao que a sociedade pensa sobre nós. Isso também é desencadeado pelos inúmeros fenômenos comportamentais que ditam uma tendência, pois, quem segue o rumo contrário, cedo ou tarde encontrará “o caminho”. Mas esse caminho, antes de tudo, é pessoal e intransferível.

É óbvio que um relacionamento amoroso que se encaixa na sua realização pessoal é algo de extrema importância para nós, pobres mortais, pois não somos máquinas programadas. E você inclusive deve imaginar que, por ter escrito isso, eu seja uma pessoa mal amada e nitidamente neurótica. Mas não, o que eu não quero é ser rato de laboratório de qualquer imposição criada pela religião, sociedade, cinema, literatura e os livros que autoajuda que se proliferam ditando “como você deve ser você”.

Acredito muito na visão de que eu tenho o direito de ser eu mesmo, pois não existe uma regra de conduta sobre quem é mais ou menos feliz. Eu sou único, você é único. Se o seu grande objetivo é um príncipe num cavalo branco, vá em frente e lute por isso, quem somos nós para julgar? Lembrem-se que nem Jesus Luz conseguiu agradar a Madonna...

Esse amor romântico de invenção cristã, segundo Schopenhauer, vai de acordo ao que André Comte Sponville também disse: “que mesmo o amor a dois deve ser solitário”. Tudo se baseia no senso de respeito e educação. Verdades universais são grandes farsas, e, mesmo que a sua farsa seja genuína, fortaleça-a o quanto possível.

Então encerro o meu discurso de solidão exacerbada (mas muito bem, obrigado) com a seguinte pergunta: você acredita que no man is an island?

O que sempre resta somos nós & o inferno são os outros.


9 comentários:

  1. bé, apita a campainha: falou e disse tudo. estamos num momento da vida humana, individual, coletiva, histórica, mundial que temos que quebrar paradigmas e criar novos modelos. nao superamos o modelo contratualista, na politica, nem o capitalismo feroz na economia (que influencia a politica e todo o resto, ultimamente). e eu fico cada vez mais preso ao modelo romatico de amor, cada vez mais perdido e certo de que esse modelo é superável, mas nao posso propor nada.

    vivo buscando um novo amor como aquele que me deixou em frangalhos nao tem mt tempo

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  2. concordo com tudo, antonio. inclusive com o schopenhauer. e assim, seguimos.

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  3. Uau. Bom, eu acredito que todo mundo precisa de vínculos. Todo mundo mesmo. Mas esses vínculos não necessariamente são amorosos no sentido "eu + você amorzinho dualista". Acredito sim que há quem se baste sem um cônjuge. Cada um tem as suas necessidades ou mesmo prioridades. Seja feliz!

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  4. Achei o texto extremamente bem escrito, por mais que eu nao concorde exatamente com tudo. Digo, nao sei se acredito que todo romantico tenha em mente exatamente a historia dos contos de fadas. até porque os contos de fadas nao tem nada de romantico. Concordei com o lance do direito de cada um exercer seu próprio papel, isso é inquestionável.

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  5. Muito bem dito, Antonio. Isso vai de encontro com o que já pensava: é possível ser feliz sem ter alguém ao lado. O que a sociedade (ou as pessoas, tanto faz) é que a gente só pode estar feliz se estiver em um relacionamento. Mas, faz certo sentido (embora também discorde disso), pois se basei na ideia de que a gente só é completo se tiver amor. Que a gente não é inteiro sem ter alguém. Ora, existia um eu pela metade antes de encontrar esse alguém? É estranho, porque ter alguém a quem amar e vice-versa não te dá garantia de nada, nem mesmo preenche vazios existenciais.

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  6. Assim já dizia a Madonna: "Until I learned to love myself, I was never ever loving anybody else".

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  7. Muito bom Antonio!

    Acho que no final das contas todos nós sabemos que o que realmente importa é aquilo que buscamos dentro de nós mesmos. E isso acontece independentemente de estarmos sozinhos ou acompanhados.

    Bjos

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  8. “Ninguém é feliz por completo. Ou falta algo, ou falta alguém”-Desconhecido.

    Termina o discurso não... Nessa linda de raciocínio podia ouvi-lo por horas e horas e horas, tava uma delicia. Como nos custa caro essa cara metade. O fato é que nascemos sós, vivemos sós e morremos sós. Ninguém é por nós, só nossa sombra.

    http://apoesiaestamorrendo.blogspot.com.br/

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