19.10.13

A HISTÓRIA DO CU

Texto revolta manifestação íngreme. Mil mortes no decorrer do tempo. O cu que prolifera, insiste, reclama de teimosia. Você é um monstro, ou libélula depois do dilúvio. Morre sempre ao entardecer, não pede desculpas. Cheque milionário em barras de ouro. O cu é o poder. O cu não é o poder. A contemporaneidade do cu, gata. Uma armadilha que você mete o dedo e imagina um pau imenso. Autoexposição que não importa, pois ninguém aqui é mestre, entidade, rainha de bateria, princesa luxuosa, puta de esquina, trapezista cega. Morro de vergonha de nós, inclusive. Intelectualidade de sofá, bom mocismo de sofá, heterossexualidade de sofá, beleza de sofá, relevância de sofá. O sofá que suporta o teu coração-cu do mundo. Todos somos seres bizarros e você tem o cu maior da estratosfera. O meu cu é o x da questão, não tenho medo, pasmo de horror, profundidade rasa, pele de pêssego, coito anal, linha reta retardatária, o reto. Lembra então daquele boy fantasiado de pantera? Lembra então do beijinho doce no espelho enquanto você desmascarava o cu como naquele filme do cineasta famoso que não sei ao certo porque sou burro? Eles só falam e piscam os olhos por motivos relacionados aos paus, aos pelos, aos cus, aos músculos, ao que não condena, ao que apenas cola. No entanto o cu é um beijo, uma forma de dissociação. A recusa do meu cu e suas pregas. Todas as pregas da humanidade. I´m not ashamed to say it out loud. As minhas contas continuam aqui, vencimento do cartão de crédito dia 5, vencimento da conta de telefone dia 2. Preciso urgentemente fazer um retiro íntimo, confessei ao amigo drogado e artista, pessoa agradabilíssima, sincera, magra e desmedida. Você nunca imaginou um orgasmo aos olhos de um cão. O cu de um cão é o terceiro olho que você deveria manter longe apenas das aparências. Porém todos os cus morrem, sofrem de solidão, caem entre quatro paredes, se escondem nas esquinas das ruas, na viela das cidades estranhas. O cu é também a sensação cósmica do ser. O cu é uma sensação cósmica, é prova de afeto e aceitação sem sobrancelhas franzidas. Ontem, por exemplo, tive um momento epifânico enquanto eu imaginava o cu da humanidade. Eu e a existência. Eu e o cu da existência. O cu é ousadia. É viajar para a América Central num ônibus caindo aos pedaços. Todos nós caímos aos pedaços, uns percebem, uns são descontentes e provocam aquela torta de climão. Torta de climão sabor cu. Sobremesa na imensidão que condena condena condena. Morde e arranca o pedaço arranca o pedaço arranca o pedaço, pois as leis gramaticais não têm cu; elas são peixes num aquário raso. Você é um peixe raso e todos os teus poros são cus em potencial. O cu que tudo pressente como num suspense italiano. Mas eu não me envergonho e eu apenas me deixo ser, sem qualquer explicação sobre os motivos que me levaram a tentar entender o cu em plena tarde de sábado onde eu deveria estar num churrasco, tomando cerveja, fingindo paz e amor e com um ódio mortal em formato de cu tatuado na testa. Não me envergonho, pois o meu cu também é rota de diamantes, paisagens e hemisférios. 

4 comentários:

  1. Acertou na veia grande LaCarne: "todos os cus morrem". Texto fantástico. Cu no luminol. Abraço.

    Tadeu S.

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  2. Troquei a palavra "cu" por "ser" e o texto pareceu muito consistente pra mim (se trocasse por "pessoa" também faria sentido). Ou seja, estava citando anônimos aí. Posso estar errada, cada um tem o seu jeito de interpretar o que lê....

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  3. Esse seu texto me fez lembrar uma célebre frase dita no filme "Tatuagem" pelo magnífico ator Irandhir Santos: "só existe uma utopia possível. A utopia do cú!" O filme deve entrar em cartaz em novembro. Não deixe de ver!

    Bjos

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