29.12.13

LOOK DO DIA

o domingo rendeu:

três episódios de “the twilight zone”;
alguns contos do cortázar;
solidão pacificadora;
páginas do diário;
tv ao fundo;
networking;
ecos de “oh boy”;
planos íntimos e clichês para 2014;
realidade niilista.

25.12.13

TRÊS FILMES SOBRE NOSSAS VIDINHAS




Eu não sei vocês, mas eu tenho o hábito, ou melhor, o vício de me projetar em filmes, livros, pessoas, situações e dramas. Como pobre mortal, acho que essa é uma forma de encarar melhor a realidade e tornar a vida mais, digamos, vivível.

Há meses, procurei desesperadamente por filmes onde eu pudesse ter um real senso de identificação. O primeiro deles foi Tiny Furniture (EUA, 2010) da Lena Dunham (já escrevi sobre ele no blog).

Então saí numa caçada em busca de histórias mais ou menos com a mesma temática: jovens de vinte e tantos anos que não sabem o que fazer de suas vidas, outsiders contemporâneos sem nenhum glamour, solitários diante do mundo-cão que exige que você seja isso ou aquilo.

Além de Tiny Furniture, a grande satisfação de 2013 foi Frances Ha (EUA, 2013), e por último, Oh Boy (Alemanha, 2012) que assisti na noite de Natal.

Esses são três bons exemplos que retratam a “geração que não deu certo” na visão de jovens cineastas sob a perspectiva da falta de esperança e motivação, ou de pessoas que sucumbem à ausência de problemas verdadeiramente sérios e dramáticos. Tudo gira em torno da relação entre os indivíduos e os famosos dilemas pessoais.

As narrativas em si são simples, e o que mais me chamou a atenção foi a despretensão no desenrolar dos fatos, pois em momento algum o gênero “filme cabeça” cai como uma luva.


Super recomendo para dias de solidão em casa, feriadões, ou quando você quiser se livrar do mundo por algumas horas.

23.12.13

ANA CRISTINA CESAR & UM SIMPLES CAMPONÊS SERVIL


Eu poderia começar este texto assim:

Lendo e relendo a obra poética de Ana Cristina Cesar, eu tento decifrar o mapa circunstancial da palavra-registro, do registro que se revela pela metade, do relato íntimo através de cartas; e de uma espécie de confidência sem ritmo que oscila entre a realidade confessional e a literária. Como ela mesma escreveu em “Correspondência Completa”, livreto composto por uma única carta em edição artesanal de 1979: “Fica difícil fazer literatura tendo Gil como leitor. Ele lê para desvendar mistérios e faz perguntas capciosas, pensando que cada verso oculta sintomas, segredos biográficos. Não perdoa o hermetismo. Não se confessa os próprios sentimentos. Já Mary me lê toda como literatura pura, e não entende as referências diretas”.

Mas não, só preciso manter o registro de que Ana C. é  minha poeta brasileira favorita. “A Teus Pés” é a bíblia dos meus dias, o meu livro-consolação/obsessão, o conforto para o vale de lágrimas, o diamante mais brilhante da cabeceira.

Mas Ana, querida, você está certa e errada ao mesmo tempo. Cedo ou tarde precisamos sim confessar nossos sentimentos. E o hermetismo é uma faca de dois gumes, afinal há anos não acredito em verdades universais.


30 anos após sua morte, eu me compadeço das minhas feridas e das tuas, como um simples camponês servil que ritualiza o silêncio no peito na hora do rush dessa terrível cidade.

19.12.13

ABRA OS OLHOS, CORAÇÃO




look bobo, você de skinny-megera, eu fugindo do verão, o colar de alice em madrepérola, ele que me instiga uns horrores, me deixa de queixo caído, não volta atrás, ensaia desculpas, bate forte a porta do quarto, finge que vai embora, fica mais um pouco, me trai na noite, marca o dedo no peito, pede que eu seja alzira, a noite é sempre surda, cola o ouvido na madrugada, separa o dinheiro do táxi, pede outra cerveja, lança olhares tortos, coça o nariz, disca o número do dealer, esforça-se concomitantemente, foge pro banheiro, acende mais um cigarro, quer que eu o siga, estaciona as mãos nos bolsos, aqui jaz o perigo, escreve bilhetinho pro paquera, não quer mais, anota o telefone, pisca o olho, promete ser a salvação dos meus dias, me fala ao ouvido, dança 3 passos de samba, ensaia pausa dramática, comete deslizes, retarda o envelhecimento e afunda o meu bote salva-vidas.

12.12.13

DAS POSSIBILIDADES DA SOLIDÃO

A gente se identifica, então a gente ama. E tenho sido cúmplice dessa solidão moderna, doméstica, e que aos poucos, arranca pedaço e a gente nem percebe. Penso no livro, no mês de janeiro, no meu dente convalescente, nos antibióticos, no novo caderno onde escrevo meus poemas que são lindos, pois você e eu precisamos acreditar em alguma coisa. Além disso, tenho lido bastante, me encantado com Budapeste do Chico Buarque (apesar dos anos de atraso), Macau do Paulo Henriques Britto, e ao mesmo tempo feliz com as possibilidades reais e irreais da vida. Penso também numa viagem, mas o destino não tenho certeza.  Ouço muito Team e Tennis Court da Lorde. Às vezes eu me sinto um personagem fatídico de Raymond Radiguet, pois acredito muito nessa espécie de autoficção a toda prova. Então eu te pergunto, citando trecho de “O baile do conde d´Orgel”: “Os movimentos de um coração como o da condessa d´Orgel serão antiquados?”

8.12.13

SÁBADO, VIRGINIA, APARTAMENTO, ARTPOP, WONDER, CERVEJA, DANÇA, DUBLAGEM, TROÇU, VIDA










“And I detest all my sins”

Madonna – Girl Gone Wild

Eu acredito que o sábado seja a menina dos olhos de ouro da semana. Então eu me vejo no centro apocalíptico da cidade onde eu moro. As ruas abarrotadas de gente, calor, água mineral por 1 real, camelôs magia, congestionamento, e numa banca de jornal “Os artigos feministas de Virginia Woolf” que eu não comprei por não ter um puto no bolso e por não saber onde ficava o caixa 24h mais próximo. Na verdade, eu sou uma daquelas pessoas sem o mínimo senso de localização, o tipo de gente que se perde no próprio bairro, na própria rua, inclusive – e na vida.

Eu já havia planejado, após o trabalho, sessão de cinema all by myself no shopping. A pós-modernidade que oprime nunca foi tão babadeira. Aí como num estalar de dedos de algum anjo misericordioso, a BFF Maarji me envia um SMS para mais um encontro joy & satisfaction em seu apartamento: “Ei, vem pra cá! A gente pode ver uns filmes, nem precisa ter cerveja. Adoro quando tu vem. Vem!

Saí correndo e tomei um belo ônibus lotado de paixão. Nos encontramos no Extra Supermercado, onde saquei uma grana e fugi do quiosque de milshake horrível, mas que me rendeu uma bela foto sob o sol escaldante no sábado passado, cujo título foi: “Look verão depressão feat. MILKSHAKE DE MORANGO”.

Pela primeira vez na vida, havíamos combinado um encontro SEM CERVEJA (!), nos reuniríamos apenas para um bom papo ou algum filme cult (nas nossas mentes).

Segue então o diálogo quem-disse-o-quê próximo ao setor de bebidas, ou melhor, no setor de bebidas em si:

-- Vamos comprar pizza, coca-cola, batata ruffles, maçãs e...
-- E o quê?
-- Umas cervejas.
-- Cerveja?
-- Mas nós não íamos “não-beber”?
-- Já que você não quer, vou comprar umas pra mim, então.
-- Então tá, vamos levar umas 12?

Ok, o plano anti-etílico foi por água abaixo, afinal de contas as nossas vidas (e a sua também) pedem por algumas cervejas, acredite.

No apartamento, Maarji, que não é santa, me mostra a edição especial do ARTPOP da Gaga que vem com um dvd do show ao vivo no iTunes Festival 2013. Enlouquecemos e apertamos o play cantando “when I lay in bed I touch myself and think of you”.

Enquanto as cervejas gelavam, comentávamos o quão legal era a performance, as músicas, todo o imaginário ao redor do ARTPOP, o duelo das divas, o possível ódio da Madonna...

O melhor desses encontros sabáticos é que prezamos tanto a irrelevância das coisas que não nos importamos se é cool ou não curtir Lady Gaga. Somos todos little MONSTROS, anyway.

Após o show, substituímos o suposto filme francês pelo documentário “Meu amigo Cláudia” que retrata a trajetória da digníssima Cláudia Wonder: transexual, e ícone da cena gay de São Paulo nos anos 80. Assistir esse documentário foi uma espécie de celebração, pois Maarji recentemente finalizou um TCC sobre a Cláudia.

Quando nos demos conta não havia mais cerveja. Sem pensar 2x fomos novamente ao EXTRA comprar mais alguns fardos. No caminho, queríamos saber o endereço do famoso bar BOCA DE TROÇU. Perguntamos ao caixa, que não soube responder. Até hoje vivemos com essa dúvida.

“Eu falei: BO-CA DE TRO-ÇU”.

Mas a noite pareceu não ter fim, dançamos, cantamos, fizemos vários vídeos-dublagem, Maarji tirou a roupa e fomos felizes do nosso jeito. De quem é a culpa?

3.12.13

AVISO DO CORAÇÃO


dezembro. preciso muito me livrar do meu livro, pronto, terminado. dois anos de trabalho e reflexão, ambos semi-árduos. por isso colhi cada perspectiva íntima, cada barra, vislumbre, noites exageradas como combustível. só mais um tempinho e ele chega, pois eu já não me preocupo com os prazos da vida. em 2014 ele finalmente dará o ar da graça, e só falo isso porque tem quem pergunte, gente que cobra, acredita e se interessa. fiquei feliz porque o tadeu sarmento vai escrever o prefácio. ele leu e gostou, disse coisas muito bonitas. o livro em si é o meu registro consciente, intransferível. ficção animália versus coração em carne viva. quando estiver pronto eu aviso. prometo.