Numa sexta-feira da
vida eu estava com a querida Lola Aronovich (professora-inspiração, cabeça
pensante, feminista e autora do blog Escreva Lola Escreva) em sala de aula,
pois estávamos prestes a nos aprofundar no conto Theft de Katherine Ann Porter.
Mas antes que a aula começasse, Lola, do nada, pediu que eu falasse sobre mim.
Apesar da surpresa, esbocei algumas frases soltas a respeito do pseudônimo
LaCarne, sobre o meu blog, e que além disso eu sou uma pessoa que escreve.
Então ela perguntou sobre quais temas eu abordava. Ainda envergonhado falei que
costumo escrever sobre a noite, os amores, os ex-amores, os pés na bunda, os
boys, sobre a cidade – tudo voltado num tom poético-catastrófico da vida. A
timidez foi tão grande que nem citei que já tive livro lançado e participação de
coletânea. Aí me veio na cabeça a grande questão do que é ser considerado
escritor, pois no Brasil as pessoas não levam isso a sério. A ignorância pode
ser tão constrangedora que em determinadas situações há quem ria da sua cara,
afinal, segundo eles, escritor tem que ganhar dinheiro e viver disso – caso contrário,
você é mais um ser pedante ou a pessoa mais irrelevante do mundo.
A questão é, quem
escreve (independente dos meios ou plataformas onde seu trabalho é publicado) é
sim um escritor. É bem verdade que são poucos os que sobrevivem da produção
literária no Brasil – enquanto nos Estados Unidos, por exemplo, um autor de bestseller
fatura uma baita grana e garante seu pezinho de meia. Aqui as pessoas não leem, o ensino público é
defasado, e a gente vive numa realidade problemática onde questões de vida e
morte precisam ser resolvidas. Caio Fernando Abreu disse numa entrevista que as
pessoas no Brasil não precisam de literatura, e sim de arroz e feijão. Isso
também é uma verdade. Mas independente de temas mais ou menos urgentes, é
preciso respeito, informação, educação.
Por vários momentos
cruzei com pessoas interessadas em saber mais sobre os meus escritos, enquanto
eu mantinha aquele ar constrangido de desconfiança; como se eu não acreditasse
em mim, como se eu não enxergasse a relevância do meu ato criativo – mesmo inserido
num país onde pessoas morrem de fome por falta de arroz e feijão, onde não há
formação de jovens futuros leitores, onde a violência grita cada vez que você põe
as fuças fora de casa, onde Felicianos da vida promovem o ódio, o preconceito,
a repressão, a falcatrua, a cura-gay.
Então um grande amigo
uma vez disse que eu deveria defender com unhas e dentes o que eu sou (isso
serve para todas as esferas da vida) e o que produzo. Não sou jornalista, nem
publicitário, nem it-boy, nem filhinho de papai, não trabalho com moda, e sou
mais um entre os que não sobrevivem da literatura nesse país. A minha formação
em Letras numa das melhores universidades públicas do país, garante que eu
trabalhe com o que mais gosto e me identifico: a educação. Além disso posso
exercer o meu papel de profissional e cidadão (além da revolta contra o
sistema), que é fazer o diferencial em sala de aula, contribuindo com o que
aprendi através da vida e dos livros para que os meus alunos do ensino público
exerçam o senso crítico.
Esse
desabafo-explicação é o meu posicionamento diante do universo, dos sonhos, das
certezas, das críticas e da realidade. E mais uma vez: o que é do homem o bicho
não come. Boto fé em mim, em você, no mundo. E no seu amor.