Dias
atrás, ou mais precisamente numa terça-feira fatídica, me deparei com a edição
de novembro de 2012 da revista Filosofia, onde Carlos Eduardo Doné escreveu um
artigo cujo título “Amor e relacionamento versus felicidade” serviu como uma
espécie de mão na roda/mantra em relação aos meus dias trôpegos e subservientes.
Ou melhor, se refere à nossa conduta que generaliza a solidão como algo
negativo, sem ao menos contextualizar as diferenças biológicas, fisiológicas,
culturais e existenciais que nos caracterizam.
Doné
estava certíssimo ao afirmar que não há um meio-termo entre um relacionamento
ortodoxo e o hedonista proveniente da solteirice que, até hoje, infelizmente,
carrega um fardo nas costas – pois estar solteiro não é visto como uma
possibilidade, e sim como uma espécie de transição até você encontrar a sua
cara-metade, isto é, a felicidade, e, sendo ainda mais preciso: o amor da sua
vida.
Desde
o século XIX com o surgimento do romantismo – e sem entrar no mérito da
influência cristã – ainda somos marcados por ideais utópicos no que diz
respeito às paixões e aos desejos de escapismo subjulgados ao que a sociedade impõe.
O solteiro, por não ser socialmente aceito se comparado à leva de casais tipicamente
felizes (ou mais próximos de um bem-estar amoroso/pessoal) busca um parceiro
para se relacionar, mesmo que isso não o faça suficientemente completo.
Não
é uma questão de inteligência ter a certeza de que o ser humano é um ser
sozinho, e essa ideia de autossuficiência é deixada de lado quando desviamos a
atenção de nós mesmos e plantamos inúmeras expectativas em relação ao outro.
A
nossa opinião acaba por nunca ser genuinamente nossa. Se nos consideramos
bonitos, inteligentes, sensuais, sensíveis, atraentes, é concomitantemente relacionado
ao que a sociedade pensa sobre nós. Isso também é desencadeado pelos inúmeros
fenômenos comportamentais que ditam uma tendência, pois, quem segue o rumo
contrário, cedo ou tarde encontrará “o caminho”. Mas esse caminho, antes de
tudo, é pessoal e intransferível.
É
óbvio que um relacionamento amoroso que se encaixa na sua realização pessoal é
algo de extrema importância para nós, pobres mortais, pois não somos máquinas
programadas. E você inclusive deve imaginar que, por ter escrito isso, eu seja
uma pessoa mal amada e nitidamente neurótica. Mas não, o que eu não quero é ser
rato de laboratório de qualquer imposição criada pela religião, sociedade, cinema,
literatura e os livros que autoajuda que se proliferam ditando “como você deve
ser você”.
Acredito
muito na visão de que eu tenho o direito
de ser eu mesmo, pois não existe uma regra de conduta sobre quem é mais ou
menos feliz. Eu sou único, você é único. Se o seu grande objetivo é um príncipe
num cavalo branco, vá em frente e lute por isso, quem somos nós para julgar?
Lembrem-se que nem Jesus Luz conseguiu agradar a Madonna...
Esse
amor romântico de invenção cristã, segundo Schopenhauer, vai de acordo ao que
André Comte Sponville também disse: “que mesmo o amor a dois deve ser solitário”.
Tudo se baseia no senso de respeito e educação. Verdades universais são grandes
farsas, e, mesmo que a sua farsa seja genuína, fortaleça-a o quanto possível.
Então
encerro o meu discurso de solidão exacerbada (mas muito bem, obrigado) com a
seguinte pergunta: você acredita que no
man is an island?
O
que sempre resta somos nós & o inferno são os outros.