20.4.14

DIAG LIFE


Acordei com o peso do mundo nos ombros. O peso de alguma coisa que me faz olhar ao redor em desagrado, e o meu rosto envelhece antes do tempo e se transforma numa cara de monstro.

A barba por fazer, preguiça que dura dias, solidão no apartamento vazio, eu e meu gato, eu e a reminiscência de algo duro, sem conforto, espinhos, algumas feridas, ninguém por perto.

Fumo o último cigarro. Por coincidência trágica, é domingo.

Então lembro que perguntei: "posso beijar o teu pescoço e ser a pessoa mais feliz do mundo?" Ele concordou, levemente indiferente. Ou quem sabe, completamente desinteressado.

Mas de repente ele tem que ir embora como bom moço. E eu decido me jogar no dancefloor, beber demais, fingir que adoro a música, que estou feliz em encontrar conhecidos.

O mundo mais uma vez gira e eu estou aqui: entre a avalanche da noite e suas consequências. Tomo um táxi em silêncio enquanto chove lá fora.

Ando pela casa de cueca, vítima da ressaca e do excesso. Saio catando as bitucas de cigarro nos cinzeiros. Ligo a TV, mas eu só quero pensar em mim. E não tomo banho, não lavo o rosto, abro a janela, observo a pia lotada de louça suja - suja como eu, você.

Aí escrevo, esquento o almoço no microondas, limpo a merda do gato, desligo o celular, e não me importo em soar tão pessoal e atingível.
 
Imagem: Czar Kristoff

4 comentários:

  1. Incrível, como reconheço sentimentos meus nos seus textos!
    Abraço

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  2. Me identifiquei bastante em certo ponto desse texto. Se isso for tão pessoal quanto soa: espero que as coisas melhorem pra ti.

    Aliás, demorei pra vir aqui, mas vim! HAHA. Então, você comentou no meu blog dizendo que deveria ter passado lá antes, mas é o seguinte: você já passou! Só que muito tempo atrás, em um outro blog. Eu lembro de ti, e fiquei muito feliz de ver o teu comentário lá!

    No momento estou tendo uns bloqueios criativos, por isso acabei não postando e agora postei uns posts bem estilo "diário virtual" mesmo. Mas que seja. Um dia eu volto a escrever, e espero que seja tão bom quanto você!

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  3. E depois disso você se mostra penetrável, muito mais do que deveria. Escreva mais! Muito gostoso dançar nas suas prosas

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